quinta-feira, 26 de março de 2015

A PEDRA DE ROSETA E OS DESAFIOS DE CHAMPOLLION

Descobrir o novo tem sido o maior dos desafios para a humanidade e durante o século vinte tivemos uma aceleração no tangente às descobertas que culminaram, em nossos dias, com toda essa fantástica tecnologia que encurtou distâncias, aproximou pessoas, esmiuçou segredos da medicina e que nos tem levado a descobrir, em galáxias vizinhas, novos planetas, muitos destes com a possibilidade de manter seres vivos. Não poderíamos estar a sós na imensidão do universo e para se chegar a algumas conclusões a esse respeito, a ciência tem buscado no passado algumas respostas para o futuro. Se a gente voltar para o interior das cavernas, onde nossos ancestrais moravam, vamos encontrar muitas expressões de suas atividades em desenhos rupestres que deram início à escrita e a comunicação. Aprofundar neste complexo segmento da nossa história foi e continua a ser um grande desafio, que ao longo de séculos tem provocado os maiores e mais dedicados estudiosos e renomados cientistas.
Cada nova descoberta então já feita, contribuiu de forma decisiva para nossa evolução em todos os sentidos. Muito do que já foi descoberto nos dá a certeza de que num passado distante por aqui estiveram seres de outros planetas que de alguma maneira deixaram sinais para que no futuro o homem pudesse encarar o desafio de desvendar isso tudo. Apesar dos avanços, ainda estamos rodeados de perguntas sem respostas, a começar por nossa própria origem, que insiste em questionar quem na verdade somos, de onde viemos e para onde iremos quando o caos tomar conta do planeta. Inscrições milenares nos contam um pouco do que foi e do que fez o homem do passado e a cada nova descoberta, sejam inscrições, tesouros ou sarcófagos no Egito, voltamos a buscar referências mais precisas para tentar desvendar uma série de mistérios. 
Viver o antigo ou se ter uma certa paixão por ele nos leva a crer que de fato vivemos em outras épocas e não é a toa que os antigos egípcios já tivessem essa crença e, para tanto, adotavam o ritual de mumificação. Como se observa, a questão dos desenhos nas cavernas, do surgimento da escrita, de intrigantes objetos descobertos assim como cidades de antigas e extintas civilizações podem nos abrir interessantes leques no que diz respeito à filatelia e seus registros em tudo o que diz respeito à história antiga do homem. Dentro desse contexto se encontra a interessante Pedra de Roseta(descoberta em 1799) , um pedaço de basalto negro gravado em três línguas, em 196 a.C, e depois amaldiçoado pelos sacerdotes egípcios. Sabe-se que a famosa pedra foi gravada e erigida na cidade de Rashid, atualmente conhecida como Rosetta e, ao redor dela reside uma história de acidentes, de desafios para decifrar as escritas e, ainda hoje, de algumas intrigas entre os governos da Inglaterra e do Egito por sua posse. A Pedra de Roseta se encontra no Museu Britânico desde 1801 e é uma das peças mais visitadas, tendo a mesma 114,4 cm de altura em seu ponto mais alto, 72,3 cm de largura e 27,9 cm de espessura. 
A pedra pesa aproximadamente 760 quilos e trás três inscrições, sendo a do topo em hieróglifos egípcios, a segunda na escrita demótica egípcia e a terceira em grego antigo. 
                                          DECIFRANDO AS INSCRIÇÕES 
 Coube primeiramente ao doutor Thomas Young (1773-1829) a incumbência de decifrar as inscrições da Pedra de Roseta. Professor de filosofia natural, médico e egiptólogo, Young falava 14 línguas e dominava a física, os clássicos, a história e ficou marcado na história por seus trabalhos em óptica, onde ele explica o fenômeno da interferência em mecânica pela definição do módulo de Young. Em seu tempo, era chamado de “o homem que tudo sabe”. Mas a Pedra de Roseta iria exigir muito mais conhecimentos e mais tarde, o francês Jean-François Champollion (1790-1832) foi quem finalmente decifrou a escrita da Pedra de Roseta e passou a ser considerado o pai da egiptologia. 
Mas para chegar a tal conquista, Champollion teve que viver uma incrível aventura de vida. Nascido no departamento de Lot, na França, ainda criança mostrou um extraordinário talento linguístico. Aos 16 anos dominava uma dúzia de línguas, e com vinte anos dominava o latim, grego,hebreu,amárico, sânscrito, avestan, pahlavi,árabe,siriaco,caldeu,persa e chinês, sem contar o francês. Estudou com Antoine-Isaac Silvestre de Sacy e em 1809 já se tornava professor de história em Grenoble. Mas Champollion só chegaria até onde chegou por mistérios que estão além da vida terrena. Conta-se que antes do seu nascimento, sua genitora, acometida de paralisia e desenganada pelos médicos de então, foi à procura de um curandeiro, o qual lhe disse que, além de se recuperar, ainda daria luz a um menino cuja fama, no futuro, atravessaria fronteiras.
Ele nasceu no 23 de dezembro de 1790 e de imediato chamou a atenção pela pele escura, a córnea dos olhos amarela e a face com feição predominantemente oriental, acontecimento excepcional, porquanto nascera no sudoeste da França, em uma região notadamente de origem ariana. Diante disso, a partir dos dez anos de idade, era chamado de “O Egípcio”, não somente pelo aspecto físico, semelhante a um oriental, como igualmente por devotar profunda identidade com as coisas do Antigo Egito, até mesmo estudando línguas mortas, em uma época dedicada as armas. Naquele tempo, o famoso físico e matemático Fourrier, participando de uma expedição científica ao Egito, organizada e chefiada por Napoleão Bonaparte, trouxe importante coleção constituída de fragmentos de papiros e inscrições hieróglifas em pedras. Convidado a expor seus conhecimentos na escola onde estudava Champollion, o sábio francês foi questionado persistentemente pelo menino, a ponto de Fourrier convidá-lo para conhecer seu importante material. Foi à casa do cientista e, emocionado, observou as vetustas inscrições. De imediato perguntou: “Pode-se ler isso?” Devido a negativa do sábio, o garoto afirmou: “Eu os lerei! Dentro de alguns anos eu os lerei!Quando for grande!” A partir daquele momento dava início a uma determinação sem precedentes em Champollion que agora, podia ter ao menos a convicção de que um dia já vivera nas terras do Nilo. 
Seguiram-se anos de muitos estudos e pesquisas e ficou tão inteirado sobre o Egito que seria capaz de conhecer a região bem melhor do que os que lá viviam então. Aos 38 anos surge a oportunidade de pisar naquele solo tão conhecido e ver com os próprios olhos o que já pudera observar numa existência passada. Seu aspecto era de um nativo do país, vestindo-se a caráter, com a aparência natural de um árabe, dominando por completo a língua atual e os hieróglifos. Ao analisar a Pedra de Roseta, ele foi o primeiro a definir com exatidão que seu texto intermediário estava grafado em demótico e foi preciso esmiuçar durante aquela expedição outros pontos do Egito, monumentos e inscrições variadas até que pudesse realmente chegar a uma conclusão plausível que o levaria mais tarde a decifrar a escrita da famosa pedra.
Champollion em pintura do artista
Giuseppe Angelelli, em 1828/29
Por seus esforços, seus estudos e pesquisas e pelo profundo conhecimento do Egito, Champollion, falecido em 4 de março de 1832, passou a ser considerado o Pai da egiptologia, aquele que veio ao mundo com a sublime e dificílima missão de ressuscitar o pensamento da estranha e mística civilização egipícia, permitindo-nos perceber, no presente, o eco das vozes dos antigos habitantes do Nilo, gravadas nos hieróglifos.

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