sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O VERDADEIRO PAI DA INTERNET





Há muitos anos, quando não se pensava em Internet, as nossas pesquisas limitavam-se às consultas em livros e enciclopédias que reuniam, para a época, espetaculares informações a respeito de vários temas de interesse geral. Recordo que meu pai adorava pesquisar quando tinha o tempo livre e seu grande “instrutor” era um grosso volume do Dicionário Enciclopédico Universal que por incontáveis ocasiões muito também me auxiliou nos estudos e pesquisas. Afora isso, nos tempos de escola o “grande portal” era apenas e tão somente a Biblioteca Pública do Paraná em suas majestosas instalações onde funciona atualmente e preserva um grande, rico e incomparável acervo de obras literárias que dividem o espaço com nossa atual tecnologia.
Se meu pai vivo fosse, tenho certeza de que ficaria extasiado diante de tudo o que a Rede Mundial de Computadores oferece ao nosso conhecimento, ainda que ela seja utilizada por muitos com outras finalidades, que ferem o nosso próprio conceito humano.
Muito antes de o meu pai ter nascido já havia alguém preocupado com o armazenamento de informações e também, imbuído numa maneira prática de as pessoas de então terem acesso a um grande volume de informações. Seu nome era Paul Otlet e muitos o consideram o “inventor da Internet”, já que no seu tempo, Otlet imaginava que um dia usuários distantes poderiam acessar base de dados através de um “telescópio elétrico” conectado a uma linha telefônica, recuperando uma imagem fac-símile para ser projetada em uma tela plana remota.
Naquele tempo essa noção de rede documentária era ainda tão recente que ninguém havia criado uma palavra para descrever essas relações, até que o próprio Otlet inventou uma: “links”.
Ele simplesmente visionou o empreendimento como uma grande teia de conhecimento humano e esta sua visão foi, sem sombra de dúvidas, o que viria a ser no nosso tempo a World Wide Web.
Seria muita pretensão contar a história desse homem genial em tão pouco espaço, já que suas atividades nesse sentido foram muitas e através do seu trabalho, Otlet nos legou o Mundaneum, o museu que abriga o imenso catálogo criado por ele e que fica hoje na cidade de Mons, na Bélgica.
Apesar de sua visão futuristica e do seu empenho, Otlet é geralmente esquecido quando o tema volta-se à Internet. Lembram de Teilhard de Chardin, H.G. Wells, Vannevar Bush, Ted Nelson, Douglas Engelbart e Tim Bernes Lee, todos admiráveis talentos que muito contribuíram para essa fantástica realidade dos nossos dias, porém, Otlet acaba ficando à margem. Justo ele que não só visionou a Web como a colocou em prática, numa magnífica “Internet de Papel”, onde milhões de cartões resguardaram informações preciosas e oportunas a todos os que a eles se direcionavam. É importante que se busque conhecer a história desse homem brilhante, que teve sonhos, que foi em busca desses sonhos, que idealizou e realizou um trabalho fantasticamente admirável para sua época e que deixou para a posteridade, apesar dos seus sofrimentos, a certeza de que o conceito de informação vai muito mais além do que se possa imaginar.
O Mundaneum, em sua segunda fase, já que o primeiro museu situava-se em Bruxelas, celebra seus 10 anos de funcionamento desde que um jovem estudante chamado W. Boyd Rayward começou a seguir a trilha de papel e não mediu esforços para fundar o museu em Mos. Longas filas de gavetas de catálogos contém milhões dos cartões de índice de Otlet, apontando o caminho para o grande arquivo que contém todos os artefatos. Apesar de uma década apenas, uma equipe de biblioteconomistas conseguiu apenas catalogar apenas 10% da coleção então existente.
Os correios da Bélgica emitiram um magnífico selo postal comemorativo para celebrar os 10 anos do Mundaneum e, ao mesmo tempo, exaltar a figura talentosa de Paul Otlet, que podemos sim, considerar para sempre, como o verdadeiro “pai da Internet”.