terça-feira, 28 de julho de 2009

O HOMEM QUE FABRICOU OURO

Ao longo da história do homem muitas descobertas o levaram por outros caminhos, sempre na busca do poder, fosse por seus exércitos poderosos ou pela riqueza armazenada. Aconteceu em dado momento a descoberta dos metais nobres, mais precisamente o ouro, que viria em pouco tempo tornar-se “o deus da fortuna” e logicamente, dar o lastro da economia em todos os quadrantes. Quem tinha muito ouro também detinha muito poder e este peso dourado podia mudar os rumos de uma guerra, por exemplo, ou a conquista de uma bela dama entre outras tantas passagens que a imaginação convida a viajar. Foi em função do ouro que os primeiros colonizadores da América adquiriram a chamada “febre do ouro” e assim, adentraram por terras desconhecidas e depararam com povos que ali, já cultuavam aquele metal nobre em nome dos seus outros deuses.
Claro que a ambição levou os exploradores a dizimar com povos ameríndios inteiros e a destruir suas cidades. Dessa maneira, muito da cultura desses povos se perdeu para sempre e o ouro que detinham partiu para outras terras, enriquecendo reis e rainhas e promovendo domínios através de sangrentas batalhas. Na tentativa de enriquecer rapidamente, muitos homens bem que tentaram fabricar o ouro utilizando métodos da chamada alquimia, ciência da Idade Média e da Renascença que procurava, a princípio, descobrir a pedra filosofal e o elixir da vida longa. Para implementar esta busca pela fórmula perfeita, nascia em 4 de fevereiro de 1682 na localidade de Schleiz, Johann Friedrich Böttger que mais tarde se tornaria um prático em farmacologia e que adentraria também pelos caminhos da Alquimia, de onde extraiu métodos que lhe permitiram uma aproximação com a realeza principalmente depois que afirmou ser possuidor da fórmula para fabricar ouro.
Naqueles tempos, em virtude da guerras, os reinos atravessavam crises econômicas violentas e diante de tal possibilidade, qualquer monarca adotaria o então alquimista. Foi o Rei da Prússia, Frederico I o primeiro a carregar consigo o jovem audacioso que, infelizmente, não obteve os resultados esperados e foi assim condenado a masmorra. Esperto no entanto, Böttger conseguiu fugir para a Saxonia, onde o Principe Augusto –o Forte, também o prendeu exigindo em troca de sua liberdade, a produção do ouro salvador. Na verdade, Augusto sonhava em produzir o “ouro branco” que chegava da China e do Japão e acreditava que o jovem alquimista poderia encontrar o segredo da pasta de porcelana , o que veio acontecer em 1709, quando Böttger conseguiu a primeira fornada de porcelana branca bem sucedida. Para esconder o segredo, Augusto instalou a manufatura num local onde ninguém pudesse entrar ou sair sem ser autorizado e onde os empregados trabalhassem e vivessem completamente isolados.
Foi escolhido o castelo de Albrecht, nos arredores de Dresden, na localidade de Meissen tornando tempos depois esta porcelana na primeira porcelana Européia e tão cobiçada quanto a dos chineses, que só chegava aos reinos através da Cia. das Índias e destinava-se exclusivamente à nobreza em razão do elevado preço das peças. Com a descoberta de Böttger, Augusto criou a manufatura “Meissen” e chamou para decorar as peças o famoso artista Christian Friedrich Herold, de Berlim, que ali trabalhou de 1725 até 1778 imitando nas peças apenas motivos chineses, o que proporcionava a venda rápida, os preços elevados e consequentemente, a salvação da economia do reino. O alquimista Johann ganhou sua liberdade e ficou encarregado de dirigir a manufatura criando sua marca inimitável, que são duas espadas azuis idênticas a do brasão da Saxônia e que atualmente, ainda que se façam falsificações, são o ponto crucial para a avaliação e veracidade dessas peças que em alguns casos chegam a valer em torno de 12 mil euros. Como se observa, Böttger conseguiu mesmo fabricar ouro, o “ouro branco” na forma de cobiçadas porcelanas que hoje incorporam os acervos de colecionadores milionários em todas as partes do mundo.
Johann Friedrich Böttger faleceu em 13 de março de 1719 e deixou as marcas de sua passagem nestas verdadeiras obras de arte, merecendo inclusive, sua efígie em uma interessante folha filatélica onde aparecem dois selos postais em sua homenagem.

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